Aqui no Banheiro, com a inspiração no foco do Transtorno do Espectro do Autismo, a artista e autista Aline Provensi nos traz a experiência interativa de aguçar os sentidos do tato, visão e audição, a partir da imensidão de vivências traçadas por meio da linguagem em quadrinhos. O prazer da água e do banho associado a possíveis desconfortos sensoriais que vão se apresentando no imaginário e no sensorial conjuntamente e que permitem trazer a relação entre a bóia e o sanitário, o remo e a escova de dentes, a banheira e a representação de um barco, ou mesmo a pia simulando um farol, nos quais o piso e as paredes se confundem como elementos vivos como as ondas e o balanceio da água, ou as gotas que se movem e apresentam sua sinfonia de sons. Aqui você pode tocar e interagir com alguns objetos da exposição, e registrar no imaginário as sensações que são sempre intensas no ambiente banheiro.

A caixa cérebro, representada pela artista Daniélle Carazzai, é o seu momento para conhecer as suas capacidades, e de como a pessoa no espectro do autismo se percebe, compreendendo cada parte desse universo sensível e encantador, que nos revela sutilezas e aguça a nossa curiosidade. Esse espaço é para ser afetivo, para você desfrutar do lúdico por meio de desafios e brincadeiras e também aprender um pouco com os dados expostos, lhe oferecendo oportunidades de aguçar sua curiosidade e desafiá-lo a novos conhecimentos, de forma que seus neurônios se conectem na mesma intensidade com que as crianças captam e nos apresentam a forma como veem, processam e pensam o mundo ao seu redor. Mas tudo passa pelo seu corpo e suas sensações, responsáveis por todas as conexões típicas e atípicas de cada um de nós. Portanto, aguce seus sentidos e se permita degustar dos mínimos estímulos que seu cérebro lhe permite escolher, da mesma maneira com que seu cérebro é capaz de captar o mundo à sua volta e lhe permite conectar com a experiência única, a qual nos traz o respeito à individualidade e à neurodivergência, como uma forma de perceber o mundo que nos cerca. Essa forma única nos revela que há maneiras de diagnosticar, de desenvolver, e que há dados científicos importantes e muitas peculiaridades nessa construção.

Na cozinha, o artista Bruno Romã se inspirou no processo das oficinas com as crianças neurotípicas e atípicas que fazem parte do Transtorno do Espectro autista para caracterizar detalhes sensíveis desse espaço tão vivo de uma casa e que aguça nossos sentidos. O ambiente celebra a integração sensorial em cada detalhe, cada cheiro, cada alimento e som que nos chama a atenção. Parece que o fogão, panelas e os potes da estante têm olhos e ficam querendo te ver, podendo representar as diversas formas de ver o mundo. O que tem dentro das panelas, o vapor do alimento fervente, o perfume do cozido e o que mais? A porta do fogão e as prateleiras parecem bocas, você enxerga isso? No pote pode ter uma barata atômica, estados cozidos e o que mais será servido depois? E as colheres, todas são iguais, e lado a lado, sistematicamente organizam tantos devaneios. E a pia? O único lugar que está “desorganizado” na cozinha, expressa a desconstrução e a reconstrução constante de valores e atitudes, ou mesmo o medo e a dúvida que fazem refletir o processo de desmantelar e reorganizar ideias, refletida na água que escorre da torneira ao ralo. E se ela voltar de baixo para cima? O caos da bagunça ou o equilíbrio? Imaginar os detalhes de cada alimento como novas formas e possibilidades, um abajur de queijo, uma almofada de sanduiche, representando as sensações e preferências por determinados alimentos.E esses potes de biscoitos, na forma de lego é para comer ou para brincar?

No quarto a artista Marcela Callado buscou representar o imaginário infantil do mundo onírico compartilhado pelas crianças participantes do projeto e o que atrai seus olhares, o tempo para relaxar, ou imaginar. O quarto é a antesala dos sonhos, estas representações tridimensionais buscam concretizar o sonho das crianças neurotípicas e atípicas que fazem parte do Transtorno do Espectro autista em um ambiente mágico com movimento, cores e formas, concretizando criaturas fantásticas como dragões e unicórnios que se movem e querem conversar. O ambiente neutro em cores e formas que as acalma e atrai como um sonho, ou nuvens brancas em leves encantos é invadido por essas enormes criaturas ou mesmo pesadelo se tornando realidade. Os desenhos literais retratados no porta-retrato e quadros, são parte da criação das crianças que constituem a alma desse projeto e a inspiração máxima para essa exposição.

Aqui na sala de jantar assim que você entrar, veja! Sente o sabor de pipoca ou o cheiro do bolinho da vovó? Metáfora ou realidade? É isso mesmo! As cadeiras ou os móveis no ambiente poderiam ser o suporte para as plantas? O que se constrói ou se desconstrói nesse ambiente, com suas peças e utensílios? Móveis tem pernas e braços ou planta nasce da cadeira? E o que tem na mesa? Quais os alimentos prediletos e os referenciais em família? O Chocolate que escorre pelos talheres que brilham, ou o sanduíche? Ou o pão de queijo e o presunto enroladinho. Nas xícaras e no bule que a vovó tem na sua casa, o que podemos ver? E as louças e seus desenhos? Desenhos literais, em repetição, com traços firmes, você consegue imaginar o que é que mais marca a memória e as emoções da comidinha gostosa ou o espaço que acolhe as pessoas em encontros de festas de Natal, aniversário e outras? Repare nas e paredes com seus quadros e emoções. A artista Bruna Alcântara traduz as sutilezas de uma sala de jantar e as memórias afetivas desse ambiente. Recordações de pessoas a quem queremos bem. Bom, é preciso relembrar.